terça-feira, maio 31, 2005

 

Nos cem números da Política Operária

Passo a reproduzir um texto do punho hábil do camarada A.I., a propósito do centésimo número da única publicação marxista portuguesa digna da herança teórica que tantos reclamam e tão poucos compreendem até às entranhas.
Aproveito para congratular a redação desta referência magna no inerme panorama politológico de portugal, especialmente ao fundador, Francisco Martins Rodrigues, uma das cabeças pensantes mais lúcidas que ainda resiste nesta latrina em que estamos confinados.

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Agora que comemoramos a centésima edição da Política Operária é urgente fazer o balanço do seu percurso, não omitindo erros, e preparar, se assim a luta o permitir, os próximos cem números.

Quando iniciei esta caminhada, ainda curta, de luta comunista, a revista cedo adquiriu para mim um lugar de referência e de reflexão teórica. Algumas das inquietações que o estudo do marxismo e a análise da luta de classes despertavam, encontraram aqui resposta. Apesar deste quadro, preocupou-me sempre a pouca representatividade das suas posições políticas no seio do movimento operário.


Será que para a grande maioria dos trabalhadores, este tipo de debate e de iniciativas não terá interesse prático? Será irresolúvel na situação portuguesa o distanciamento entre operários e "intelectuais" (confesso que nunca apreciei esta definição)? A falta de independência política do proletariado português e de pensamento de classe são parte da resposta às questões acima enunciadas. Um reformismo pequeno-burguês tem incapacitado uma resposta mais ousada ao avanço da depradação capitalista. A isto não posso deixar de adicionar as diversas traições próprias da pequena burguesia intelectual, que empurraram os trabalhadores para uma posição de desconfiança e de defesa em relação a estes "pequenos chefes", arautos de uma revolução profusamente adiada.

Todas estas questões que aqui abordei foram já motivo de debate nos diversos números da Politica Operária. Nada do que aqui escrevi pode ser classificado de inovador. A este impasse histórico do operariado português (característica marcantemente internacional) a burguesia respondeu com todas as suas forças reaccionárias, dominando quase por completo a arena social e política. Este mundo agoníaco que a minha geração e as futuras recebem de herança não nasceu por uma qualquer lei natural, ou pela conspiração de personagens criadas pela pena de um Dickens. Este mundo agoníaco, que coloca em risco a própria reprodução da humanidade é o produto deste recuo, desta incapacidade do proletariado internacional e nacional em se mobilizar e inverter o peso na balança da luta de classes.

Para fazer face a tudo isto é imprescindível o debate profundo, associado a acções políticas, nos grupos marxistas. Impedir o triunfo da ilusão democrática liberal, impedir o triunfo deste pensamento único (tipo rolo compressor) são tarefas a que actualmente não podemos fugir, correndo o risco de nos deixarmos indefesos e inócuos. É urgente a denúncia continuada do imperialismo, seja europeu ou dos Estados Unidos. É urgente, urgentíssimo, reclamar o direito à revolução, desmascarando os apelos sentimentalistas de uma certa esquerda pela reforma dos aparelhos que apenas produzem opressão.

Os tempos que se avizinham são preocupantes. Ter a noção exacta da História e da relação de forças, é um primeiro caminho para fazer face às dificuldades. Por alguns momentos somos obrigados a um pessimismo reflexivo associado a um optimismo nos nossos actos. Agora que fazemos face ao histerismo dos défices, à política da terra queimada dos direitos laborais, a uma espessa cortina de fumo dos meios de informação, à escalada da guerra da imperialista e da exploração, façamos nossa essa afirmação permanentemente jovem, "Comunismo ou Caos".



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