quarta-feira, abril 11, 2007

 

BE: A história oculta dum projecto de carreira profissional com a política como desculpa

Em resposta a um texto do Daniel Oliveira, comentário que obviamente deciciu não publicar, alinhavei a altas horas algumas reflexões esparsas sobre a génese, o relojoeiro e a natureza eminentemente oligárquica do Bloco de Esquerda.

Aqui fica o dito:

Estive na assembleia de fundação do BE, creio que em Fevereiro de 99 no Forúm Lisboa. Acompanhei todo o processo de gestação do projecto desde um dos tais partidos de "extrema-esquerda" que mencionas com certo desdém. Curiosamente, o partido que liderava a cabeça pensante que pôs em marcha a concepção bastante sedutora de "acrescentar Esquerda à esquerda", de construir uma alternativa credível num espaço político ambíguo, algures entre a dissidência do PCP e malta do PS que se atém a determinados valores "socializantes" e a "causas justas". Não falo do PSR nem do Chico Louçã, como muitos poderiam supor. Falo de Luís Fazenda e da UDP (agora recauchutada como "associação política de natureza comunista", se entretanto não se extinguiu por completo), verdadeiro eixo motriz de todo este movimento de grande êxito eleitoral e quase nulo impacto social que conhecemos.
Na minha curtíssima passagem pelo BE, do qual me auto-excluí em Junho de 99 com outros camaradas, compreendi que o BE se concebeu para o mesmo fim que qualquer outro partidozinho da Esquerda pequeno-burguesa materialmente remediada, com os adornos progressistas da moda, claro está: distribuir tachos tão depressa como as urnas assim o decidissem.
Não há nada como conhecer um político institucionalizado antes e depois de o ser. Passa um gajo de secretário-geral de um partido marginal com um "sombrio" passado Hoxhista a senhor deputado da nação e muda por completo a priorização temática, o discurso suaviza-se... enfim, o travestismo do costume.
Exactamente por apreender a essência não-democrática do organigrama emergente na altura, onde o vedetismo mediático se impôs a qualquer outro critério, decidi afastar-me para não interroper o festim. Também percebi que o direito de tedência que tanto louvas no teu texto só é tolerado até ao ponto em que possa interferir com a linha definida pelos mesmos caciques nestes 8 anos. Um pouco à semelhança da democracia vigiada em que vivemos. Deixam-te palrear à vontade conquanto não ponhas em causa interesses establecidos ou a sacralidade de certos príncipos, como a propriedade privada dos meios de produção (usar calão marxista em 2007, quanta tibieza e incapacidade de absorçao do politicamente correcto; "não é defeito, é feitio", como dizia o eterno candidato do BE a todas as encenações sufragistas de maior alcance; as restantes ficam para o Portas). O que mais me entristece no BE que temos não são os delírios megalómanos da FER, mas sim a prevalência da cultura de oligarquia partidária, além do flagrante desmazelo ideológico. Não me interessa uma porra formar alianças com o mero intuíto de aumentar a massa [a]crítica do movimento com preocupações pouco mais que aritméticas. Ampliar e ter presença social é importante, com certeza muito mais importante que a visibilidade mediática. Garantir solidez ideológica claramente MARXISTA (espero que não te rebentem as pupilas) e acabar de uma vez com a Mesa Nacional dos barões, baronesas e aprendizes de barão (qual corporação medieval) parece-me ainda mais relevante.
É bom que se entenda que o BE nasceu com a cumplicidade ingénua de um punhado de "radicais" comunistas não dogmáticos que estavam empenhados em construir algo substancialmente distinto do que a a cúpula da direcção implementou no terreno. Uma Esquerda para quem a queira, inclusiva, mas não com todos.
Que siga o banquete e a pândega! Estas intrigas picarescas vistas de fora são pouco mais que comezinhas frivolidades de café.
É preferível ir só a algum lado que com todos a lado nenhum.

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